Livros

Vi-o naquela estante, guardá-do numa prateleira onde o pó dançava alegremente sobre todas aquelas páginas. O cheiro desta loja é o mesmo que todas as livrarias devem ter: um cheiro a pó, mas um pó diferente, um pó curioso, mágico e com um pouco de cada história que se encontra naquelas linhas.
Está encaixado noutros tantos contadores de histórias, reais ou fictícias, mas foi aquele, o que me despertou, por nenhuma razão, ou talvez por todas, mas sobretudo pela simplicidade da sua capa. Peguei-lhe, senti todas as rugosidades na sua capa, todas as cores. Folhei-o, senti o seu cheiro, o cheiro de todo o seu enredo, das personagens e dos cenários. Apertei-o contra o peito, e dirigi-me pelo resto da loja em direcção à caixa, paguei e saí.
Levava-o no saco, que a minha mão segurava com tal contentamento e determinação, que os outros sacos tinham inveja.
Sempre vi os livros como pessoas, entram na nossa vida, contam-nos boas coisas, ou más, e podem permanecer ou não na nossa vida, trazendo-nos boas ou más recordações, transmitindo-nos uns tantos sentimentos, desde felicidade, a choro, ou suspense e inquietação.
Sentei-me num qualquer banco do mais comum possível, num jardim onde as pessoas faziam as suas caminhadas, cabisbaixas, onde os corpos se exercitavam, mas a mente viajava muito além do parque. Tal como eu, que lia agora todas as pequenas letras que dançavam à melodia da história e da música que me retirava calmamente do corpo.
Quando leio um livro, é como se fosse sugada para o seu interior, embrenhando-me na sua história que me agarra com unhas e dentes e não me deixa fugir. Ler um livro é como fazer uma viagem longínqua, reduzida a umas centenas de páginas.
Fechei o livro, e olhei à volta, tinha comigo a estranha sensação de quando chegamos a casa depois de uma longa viagem.
Lê-lo todas as noites, bebericando numa caneca com chá fumegante, acompanhar a história, intensivamente, a cada noite, até que só faltava um capítulo. Lidas essas páginas, com ainda mais intensidade, até que acaba, lemos o último capítulo, a última página, o último parágrafo, a última palavra, o último ponto final.
E tudo acaba.
Fecha-mo-lo, sentimos um vazio a percorrer o corpo, e arruma-mos-o.
Conhece-mos toda a sua história, o seu enredo, os seus segredos e sentimentos.
É mais uma "pessoa", que nos contou uma história, e continuará connosco.
Mas agora, tudo acaba.

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Olhos da minha mãe

olhar-te nos olhos